INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO (1984)

(Indiana Jones and the Temple of Doom)

 

Videoteca do Beto #31

Dirigido por Steven Spielberg.

Elenco: Harrison Ford, Kate Capshaw, Jonathan Ke Quan, Amrish Puri, Roshan Seth, Philip Stone, Roy Chiao, David Yip, Ric Young, Chua Kah Joo, Philip Tan e Dan Aykroyd.

Roteiro: Willard Huyck e Gloria Katz, baseado em estória de George Lucas.

Produção: Robert Watts.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Segundo filme da deliciosa saga do arqueólogo, “Indiana Jones e o Templo da Perdição” infelizmente apresenta um resultado claramente inferior ao primeiro longa, se salvando somente pelo carisma do protagonista e pelas engenhosas seqüências de ação que caracterizam a série. Steven Spielberg dirige aqui um filme mais sombrio, menos realista e, conseqüentemente, menos interessante. Nada, porém, que comprometa o filme ao ponto de classificá-lo como um fracasso total. Longe disso. O grande pecado é que ele não atinge a excelente expectativa, inevitavelmente criada após o maravilhoso filme que o precedeu.

O arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford) escapa de Shangai, acompanhado de Willie Scott (Kate Capshaw) e do pequeno Round (Jonathan Ke Quan), mas na fuga é forçado a parar na Índia, onde encontra um povoado que lhe solicita resgatar as pedras roubadas por um feiticeiro que escraviza as crianças do local. Na busca destas pedras, ele encontrará diversos obstáculos e enfrentará poderes mágicos vindos do fanatismo de um culto obscuro que sacrifica seres humanos.

O início empolgante em Shangai, seguido pela clássica linha vermelha que acompanha o avião no mapa, além é claro do logo da Paramount se transformando no primeiro plano do filme, dão a sensação de que vamos presenciar outra maravilhosa produção, tão qualificada quanto “Os Caçadores da Arca Perdida”. Porém esta sensação se desfaz logo na primeira grande cena de ação, repleta de momentos irreais, mas que por outro lado, revela o ponto positivo de “Templo da Perdição”, o humor refinado. Os momentos bem humorados aparecem em número maior que no primeiro filme, como na cena em que Willie pergunta desesperada para Indy se ele sabe pilotar, e ele responde: “Não. Você sabe?”. Logo em seguida, quando pulam do avião num bote e conseguem pousar (?!), caindo de um penhasco (numa das seqüências absurdamente irreais) e aparentemente conseguem se salvar, Indy diz que “não foi tão ruim assim”, somente para depois despencar dentro de um rio. Em outro trecho bastante engraçado, Willie se desespera com os animais na selva, enquanto Indy joga cartas com Round e comenta com o garoto que o problema dela é a gritaria. A cena do jantar no palácio também garante boas gargalhadas.

O garoto interpretado por Jonathan Ke Quan, aliás, é extremamente divertido, com um ótimo timing cômico. Já Kate Capshaw exagera nas caretas e gritos de Willie Scott, tornando a personagem muito irritante. Por outro lado, os apuros que ela passa garantem boas risadas, o que reforça o argumento de que o humor é o destaque do longa. Felizmente, o carisma inegável de Harrison Ford garante a simpatia do espectador. Novamente muito confortável no papel do arqueólogo, seu ótimo senso de humor, suas engraçadas reações e até mesmo suas caretas (bem mais comedidas que de sua parceira, porém muito eficientes) garantem a diversão. Até mesmo porque Indiana Jones continua sendo um herói diferente, tomando decisões erradas, que comprometem sua segurança, o que é sempre divertido e garante autenticidade ao herói. Observe, por exemplo, a cena em que ele joga uma pedra em um homem que maltrata as crianças escravas, somente para chamar a atenção dele e de todos os outros presentes, já que de nada adiantaria tomar aquela atitude intempestiva. Em outro momento, após escapar de ser esmagado junto com Willie e Round, ele volta para pegar o chapéu, numa atitude que somente Indy seria capaz de tomar. Este enorme carisma do herói é o que evita a antipatia da platéia pelo filme, mesmo com o tema sombrio abordado.

Notavelmente mais sombrio, o longa afunda o herói em um mundo que explora coisas claramente repugnantes, como um ritual (uma espécie de magia negra) que sacrifica seres humanos e a escravidão de crianças. A fotografia vermelha (Direção de Douglas Slocombe) durante as cenas do ritual soa muito apropriada, numa referencia clara ao inferno. Por outro lado, a ótima trilha sonora (John Williams) característica de Indy garante alguns momentos de alegria e, especialmente na cena em que Indy finalmente coloca a mão nas pedras dentro do altar, alcança momentos poderosos. Finalmente, a espetacular seqüência nos carrinhos de trem é de uma criatividade e engenhosidade incrível, garantindo emoção e ação de alta qualidade, apesar de alguns pequenos exageros, perdoáveis neste caso. E perdoáveis justamente porque a criatividade, nesta cena, não faltou, o que não permite que o espectador se atente aos detalhes exagerados. “Templo da Perdição” apresenta ainda uma referência sensacional ao primeiro filme, quando novamente um homem habilidoso empunhando uma espada chega para atacar Indy. Ele repete a mesma cara de desdém e leva à mão para sacar a arma. O detalhe é que aqui ele não estava com ela, tornando a cena muito bem humorada.

Em resumo, o problema de “Templo da Perdição” não é necessariamente o exagero de algumas cenas de ação, também existentes no primeiro filme, mas sim a falta de criatividade do roteiro.  Se a narrativa fosse mais envolvente e criativa, as seqüências irreais passariam batidas, como acontece em “Os Caçadores da Arca Perdida”. O roteiro de Willard Huyck e Gloria Katz é extremamente fraco, sem criatividade, o que prejudica o resultado final do filme. Desta forma, a enorme quantidade de cenas irreais soa falsa e exagerada, sendo salva apenas pelo enorme carisma do personagem principal, que é realmente sensacional. Além disso, os poucos efeitos especiais que aparecem no filme soam apenas razoáveis hoje, mas na época funcionavam muito bem. Exatamente por isso que os efeitos mecânicos funcionam de maneira muito mais eficiente, pois jamais envelhecem ou perdem o realismo.

Infelizmente menos inspirado e atraente que “Caçadores da Arca Perdida”, o segundo filme do arqueólogo Indiana Jones consegue algum sucesso somente pelo enorme carisma de seu personagem principal. Apesar da boa direção de Steven Spielberg, principalmente nas engenhosas cenas de ação, o roteiro fraco e pouco criativo compromete até mesmo estas cenas, chamando à atenção para o exagero, que no primeiro longa soava até mesmo charmoso. Sombrio em demasia, “Indiana Jones e o Templo da Perdição” não consegue jamais alcançar a qualidade esperada, e exatamente por isso, decepciona. Felizmente, o herói que o inspira, assim como seus produtores, também comete erros e acertos, e exatamente por isso, a esperança de um filme melhor para a seqüência da saga renasce.

PS: Vale destacar que ainda não assisti “A Última Cruzada”, assim como não havia assistido aos dois primeiros filmes da série, o que esclarece minha última frase da crítica.

Texto publicado em 29 de Dezembro de 2009 por Roberto Siqueira

8 comentários sobre “INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO (1984)

  1. vitor 20 julho, 2012 / 3:24 pm

    Boa análise. também concordo que o filme parte mais para um lado de suspense do que aventura. mas mesmo sendo o mais fraco da série, convenhamos que este deixa muitas aventuras aí no chinelo,não?

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    • Roberto Siqueira 28 julho, 2012 / 3:54 pm

      Com certeza Vitor.
      Ainda assim, é claramente inferior ao primeiro e ao terceiro filme.
      Abraço.

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  2. Mateus Aquino 2 junho, 2012 / 6:50 pm

    Não acho um filme apenas razoavel eu o considero muito bom, mas claro, inferior ao 1 e ao 3, e o roteiro é bom, um tema bastante interessante até

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    • Roberto Siqueira 7 junho, 2012 / 11:58 am

      Compreendo Mateus.
      Abraço.

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  3. Vinicius Colares 6 janeiro, 2010 / 1:49 pm

    Bem, que o film é inferior a caçadores da arca perdida e a ultima cruzada, isso é fato, mas três estrelas? mesmo com problemas o filme é uma aventura deliciosa, com as melhores cenas de ação da série e cumpre muito bem o que promete, melhor do quê qualquer filme do genero aventura atual, num dia de muita raiva, eu poderia dar 4 estrelas, pelos irriatantes gritos da mulher do Spielberg kate Capshaw, mas minha cotação para o filme é 5 estrelas.
    lógico que é só uma opinião.

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    • Roberto Siqueira 6 janeiro, 2010 / 7:01 pm

      Olá Vinicius. Seja bem vindo ao Cinema & Debate. Respeito sua opinião, mas não ligue muito para as estrelinhas não, é apenas uma referência. O que realmente importa é o texto. E sinta-se à vontade para discordar sempre que achar que deve, ok? Um grande agraço e volte sempre.

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  4. Rafael Junqueira 30 dezembro, 2009 / 10:19 am

    Ola Roberto S.,

    Discordo de sua análise de que o filme seja desinteressante e tenha roteiro fraco. Acho que ele é muito bom, e prefiro ele entre os três lançados na década de 80, agora ele empata com o reino da caveira de cristal. Acho que é muito realista, não entendi o seu foco neste ponto. O que poderia ser fora do realismo? Bem, o filme tem seu contraponto de um ritual oriental para acalmar e oferecer ao Deus Kali para isso eles busca três corações para as correspondentes pedras do vilarejo.

    A cultura Indiana é apresentada no filme de uma forma bastante interessante. Demonstrando a pobreza aparente e a riqueza de cultura e religião.

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    • Roberto Siqueira 30 dezembro, 2009 / 11:57 am

      Olá Rafael. Sinta-se a vontade para discordar sempre que for o caso aqui no Cinema & Debate. O blog existe também para debatermos o cinema, e este tipo de ponto de vista diferente gera uma discussão sempre saudável. Entendo que a falta de realismo existe, por exemplo, quando Indy, Round e Willie saltam de um avião em um bote e pousam ilesos, ou quando no início do filme em Shangai seus inimigos erram tiros com metralhadora à poucos metros de Indy, que ainda sai para pegar uma espada e cortar o gongo. Particularmente, gostei mais de “Os Caçadores da Arca Perdida”, e ainda vou assistir “A última cruzada” para poder definir qual dos 3 da década de 80 eu gostei mais. Sobre a cultura indiana, é realmente interessante notar este contraste entre a pobreza na qualidade de vida e a riqueza cultural. Obrigado pelo comentário e volte sempre!

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